quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O impresso, o hipertexto e o comportamento do leitor: como se orientar entre tantas possibilidades de escolha?

“(...) A leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto, é feita no sentido de memoriza-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala (...)” Paulo Freire


A contemporaneidade exige das pessoas uma postura reflexiva, crítica, flexível, criativa e inovadora. Além disso, a capacidade deste indivíduo de se expressar em diferentes contextos e com muitos interlocutores é também bastante exigida, pois já não é o bastante uma postura responsiva e passiva diante desta nova realidade que se apresenta, então, faz-se necessário dar o salto qualitativo para o protagonismo e a autoria em todas as dimensões do conhecimento. Para que isto aconteça é importante e fundamental que a habilidade leitora se desenvolva plenamente: é uma atitude menos passiva diante da mensagem, onde o leitor tem em mente o foco de suas buscas, sabe o que quer de cada matéria – seja ela impressa ou hipermidiática -, questiona-se, relaciona idéias, imagens, numa decisão consciente de quem experimenta para conhecer e conhece para experimentar.
Diante do texto impresso ou do hipertexto, o verdadeiro leitor vai além e compreende o que lê criticamente estabelecendo relações entre texto e contexto. Quaisquer que sejam os suportes, do cordel aos links do mais sofisticado hipertexto, é a atuação do leitor-aprendiz que determina o significado da aprendizagem. Tudo o mais são ferramentas postas nas mãos daquele que tem a tarefa de fazer do ato de ler uma ação transformadora.
Ao clicar numa home page e navegar em formatos múltiplos e não-lineares de escritura, o leitor emerge em um mundo onde a interatividade está intrinsicamente relacionada com a sua capacidade de penetrar neste universo hipertextual, apropriar-se do dito, do não-dito e dos muitos dizeres para que também ele possa dizer a sua palavra, posicionar-se e se expressar. Eis aqui um novo paradigma de leitura e escrita: o hipertexto - não –linear, multivocal, intratextual e intertextual – que seduz pela rapidez, usabilidade, diversidade de recursos e muitas possibilidades de conexões e associações que se abrem em frente da pessoa leitora.
Nesse sentido, o hipertexto com suas características, é uma metáfora importante para as relações em sala de aula onde tantas vozes e olhares se entrecruzam propondo, assim, para educadores e educandos, interconexões e diálogos abertos na construção de redes cognitivas.
Como vimos, a leitura está em nossa vida, faz parte do cotidiano e necessitamos dela como habilidade de compreensão e de conhecimento de nossa identidade e do mundo que nos cerca. Mas precisamos de uma educação voltada para a formação do leitor crítico-reflexivo. Do leitor – autor, sujeito de suas ações, que diante do texto, impresso ou hipermidiático, seleciona, identifica, relaciona e integra as informações contidas no texto; reconhece a coerência entre as informações intratextuais e intertextuais e usa os conhecimentos prévios sobre o tema para elucidar dúvidas, formular questões, estabelecer links e construir novos conhecimentos.
Cabe neste momento, retornar a nossa questão inicial: o impresso, o hipertexto e o comportamento do leitor: como se orientar entre tantas possibilidades de escolha?
O desenvolvimento da habilidade leitora crítica dependerá, portanto, das conexões, das interações, das trocas de informações divergentes, do foco das discussões e dos objetivos e desafios propostos para o leitor-aprendiz. Nesse processo de formação e interatividade haverá um crescimento mútuo entre educadores e educandos, o que favorecerá a consolidação da cidadania e da identidade dos sujeitos da práxis educativa. Só assim estaremos mais próximos da leitura proposta por Paulo Freire quando disse da importância do ato de ler: “(...) Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (...)” E isto é válido para qualquer contexto e situação onde ler é preciso, seja por via impressa ou hipermidiática e exige iniciativa, criatividade, ousadia, experimentação, sensibilidade e vontade, como agentes principais dessa atividade, ao mesmo tempo intelectual e afetiva.


Bibliogarfia Consultada:

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 1 ed. – São Paulo: Moderna, 2003. – (Coleção palavra da gente; v. 1. Ensaio)

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